Por vezes tenho saudades... do Verão que já passou há tanto tempo, da praia de mar ou fluvial cada qual com seu encanto.
Das longas tardes de Verão, quando era miúda e passava férias na aldeia da minha mãe, aquilo é que eram dias tão grandes... as brincadeiras, o acartar água com jarros porque na aldeia não havia ainda água canalizada, as paródias da minha mãe com as irmãs que se juntavam só uma vez por ano, as suas conversas por vezes brejeiras convencidas que nós as miúdas não estávamos a perceber nada... ilusão a delas...os serões à luz do candeeiro a petróleo, as mulheres a conversar, nós na brincadeira e os homens a jogar às cartas e muitas vezes a discutir...
Dos princípios de ano na escola, com cadernos, lápis de cor novinhos em folha, o cheiro da escola, nunca o esquecerei e como sinto saudades dele.
Do primeiro emprego, aquele frio na barriga com uns nervos que me tiraram a força nas pernas, e afinal tudo correu tão mal que só lá estive um mês, só no segundo é que fiquei quase 40 anos, grandes tempos que passei naquela empresa com tantos convívios e amizades que nunca se esquecem mesmo que estejamos afastados, há pessoas que nunca se apagam da nossa memória.
Do meu namoro, daqueles como já não existem e é pena, agora é tudo demasiado fácil...
Do dia do meu casamento, que dia único e inesquecível, eu uma miúda com 21 anos e com aspecto de ter 15, com tanta gente a interrogar-se como iria eu dar conta do recado... mas dei! um ano depois fui mãe um momento mágico e daqueles que guardamos na caixinha especial ali mesmo pertinho do coração. Quatro anos depois fui mãe pela segunda vez, um menino, que sorte!!! já tínhamos uma menina, um casalinho era algo que quase todos queriam e nós tínhamos conseguido, os meus filhotes tão lindos que andavam sempre atrelados a nós. Mais um acontecimento guardado na caixinha ali mesmo pertinho do coração.
Das peripécias que a vida nos ia pregando ao longo dos tempos, entre trabalho, vida em casa, férias, as nossas férias... tão boas, fossem passadas no Algarve ou no Portinho da Arrábida vindo para casa todos os dias, o importante era estar de férias e afinal os miúdos queriam era praia aqui ou ali tanto fazia.
Da gravidez já fora de contexto que nos preocupou tanto de princípio e que tantas alegrias nos deu depois com o nascimento da nossa caçula, quase nos meus 40 anos, algo mais para guardar na caixinha ali bem pertinho do coração.
Do dia de casamento da minha filha mais velha, uma festa organizada com muito tempo e pormenor e muito amor, um dia memorável com emoções muito baralhadas entre o feliz e o desalentado pela nossa menina nos ir deixar... mas sem dúvida este dia também está guardado na caixinha ali mesmo pertinho do coração.
Do nascimento das minhas lindas princesas, uma alegria difícil de explicar, um amor profundo e diferente de todos os outros, e que está guardado bem lá por cima, na caixinha ali bem pertinho do coração.
Do
casamento do meu filho, tão diferente do da irmã, já com uma filhota
mas tudo organizado com tanto empenho, amor e que lindo dia, e lá está
ele guardado ali mesmo pertinho do coração.
Tenho saudades de ser mais nova em que tudo levava à frente não existiam obstáculos, embora agora também seja assim, só que os obstáculos custam mais a ultrapassar, mas ultrapassam-se! nem que seja preciso ajuda.
Saudades a sério tenho do meu pai... tudo o resto está comigo, mas ele não , só em memória bem guardada ali na caixinha bem pertinho do coração.
Claro que tudo do que falei foram as coisas boas, excepto a falta do meu pai, coisas más também as houve e muitas... mas essas estão guardadas não na mesma caixinha, mas noutra que tenho ali num cantinho do cérebro onde guardo o que não gosto, nada está esquecido, simplesmente guardado e bem arrumadinho para não chatear muito.
Esta é a nossa história de vida em traços gerais porque os pormenores são nossos, digo nossa porque eu entro no 5º parágrafo. Este ano são 40 anos de tudo o que congrega um casamento de felicidade e amor. Hoje, o teu dia de aniversário, um grande beijo para ti.
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