domingo, 14 de outubro de 2007

No tempo das nossas avós...

Numa das minhas habituais visitas ao blog da Rosa Pomar, li um texto , em que ela escrevia sobre os tapetes de trapos portugueses. Este texto fez-me recordar algumas imagens da minha infância, quando já vivíamos no Barreiro e íamos de férias no Verão para o Paúl, a aldeia da minha mãe, localizada mesmo perto de Abrantes.
Lembro-me de ver a minha avó Maria, sentada, a cortar tirinhas de tecidos de padrões , cores e texturas diferentes, de modo que ficassem todas da mesma largura, o que a minha avó conseguia com grande mestria, pois a prática era muita.
Depois de cortadas eram enroladas em grandes novelos que de seguida iam para a tecedeira onde eram tecidas as mantas e os tapetes de trapos. Os tecidos utilizados eram novos, restos dos vestidos, saias , camisas dos homens e de toda a roupa que na época era feita em casa, as peças mais difíceis eram feitas na costureira da terra, que depois da obra feita devolvia os restos dos tecidos da mesma.
Depois das mantas e tapetes serem tecidos vinham para casa das clientes onde eram guarnecidos com as lindas chitas portuguesas que a Rosa tanto gosta e fala. Tenho algumas mantas e tapetes destes, bastante antigos, na minha casa da Abrançalha, quando lá for, vou fotografar para os mostrar.
Para além destas mantas, faziam-se outras na época, também muito bonitas, brancas chamadas "colchas puxadas" que eram muito utilizadas como adorno nas camas dos noivos na noite de casamento, este nome era devido aos desenhos serem executados puxando os fios do tecido. Eram tecidas em teares manuais e rematadas por vezes com lindas franjas. A fazer conjunto eram feitas toalhas de rosto também no tear, com barras na ponta e franja. Estas toalhas eram postas nos lavatórios antigos que existiam em todos os quartos de casal.
Outra coisa que me lembro muito bem, era a vinda do latoeiro à aldeia. Vinha remendar tachos e panelas de alumínio e gateava a loiça de barro (tachos, panelas) e também alguma loiça melhor que se partia mas que tinha aproveitamento, dantes não se deitavam as coisas fora com a facilidade desmedida de hoje, as pessoas tentavam aproveitar tudo ao máximo, a vida era muito difícil e não se compravam as coisas com facilidade.
Passo a mostrar adiante algumas fotografias daquilo que descrevi acima.

Colcha Puxada executada em tear manual



Pormenor de Colcha Puxada


Toalha de rosto executada em tear manual, com franja


Pormenor da toalha de rosto


Travessa de loiça centenária que herdei da minha avó Maria.
Adoro esta travessa.


Adoro-a por ter sido da minha avó, e, também porque está gateada, um raro testemunho desta actividade, que segundo penso está completamente desaparecida.

3 comentários:

  1. wow ! aprendi imensas coisas novas aqui.
    vou voltar..obrigada :)

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  2. Gostei deste peça. Eu também era muito ligada à minha avó materna junto da qual cresti e vivi até aos vinte e três anos. A propósito de "gatos": o meu pai reparava determinadas peças da minha mãe, usado esta técnica, mas a minha mãe quando podia, substituía por uma nova. Não gostava de loiças remendadas. Lembro-me de ver o meu pai a remendar um alguidar de barro, onde a minha mãe preparava a massa das filhoses.

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